Livro Nu, De Botas | Antonio Prata (Crítica)
Nu, de Botas é um livro de crônicas no qual Antonio Prata nos conta sobre sua infância. Mas não se engane ao pensar que irá encontrar o olhar de um homem formado sobre suas experiências infantes, pois graças a maneira como o autor narra, o leitor tem a impressão de estar "escutando" uma criança descrever o que aconteceu com ela semana passada, pois como a própria sinopse do livro diz: "Em Nu, De Botas, o narrador retrocede ao ponto de vista da criança, que se espanta com o mundo e a ele confere um sentido muito particular - cômico, misterioso, lírico, encantado."
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As habilidades do autor de regredir à idade de criança são incríveis, porém são um tanto questionáveis, pois Prata nos conta coisas que aconteceram aos seus quatro anos com tanto detalhe e convicção que fica difícil acreditar que se lembre com essa clareza.
Apesar de, como eu já ter dito, o livro ser narrado por uma "criança", não o recomendo para crianças, pois não é um livro infantil, porque além de usar palavras um pouco mais difíceis e que não fazem parte do linguajar das crianças, a maior parte dos acontecimentos acontecem por volta dos anos 70 e talvez muitas coisas que serão ditas no livro, as crianças não conheçam (grande parte das coisas eu também não conhecia, tive que perguntar para minha mãe). Talvez por eu não conhecer ou me identificar muito com a época em que ocorreu a infância do autor, o livro tenha perdido um pouco do encanto de trazer aquela nostalgia à pessoas que viveram, muitas vezes, situações parecidas. Mesmo assim é bem provável que você, seja lá quantos anos tenha, se identifique com algumas passagens marcantes da infância de Antonio, como a emoção de falar com seu ídolo (Alô, Bozo?) ou aquela encenação digna de um Oscar para convencer a mãe de que está doente e faltar à escola (Saturno x Mercúrio).
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Nu, De Botas é um livro contrastante, pois mesmo sendo narrado pelo ponto de vista de uma criança, sem algo, aparentemente, muito profundo, quase beirando o banal, ele mesmo assim consegue nos fazer refletir com aquela sinceridade ingênua que só crianças são capazes de ter e, dessa maneira, o livro cria um humor inteligente. Portanto, meu veredicto a respeito de Nu, de Botas é que, certamente, ele vale a pena.
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