Conheça o Artista | Claude Monet
Lagoa de Nenúfares - 1899 |
"Eu pinto como um pássaro canta. Não se fazem quadros com doutrina." (Claude Monet)
Claude Oscar Monet é um dos principais expoentes do movimento impressionista. Ele pintava com admirável espontaneidade, tendo como única preocupação captar o movimento da natureza no exato momento em que o olho a captava, sem a interferência da inteligência ou da lógica, puramente impressão. Em seus quadros, Monet utilizava cores vivas e muita luz, além de pinceladas rápidas que capturavam com maestria o espetáculo da natureza.
Claude Monet nasceu em Paris no dia 14 de novembro de 1840, porém aos cinco anos de idade se mudou para a cidade portuária de Le Havre. Desde pequeno já demonstrava seu talento natural para a arte, já que seus cadernos escolares eram cheios de esboços e caricaturas, as quais adquiriram certa fama entre os adultos e passaram a ser vendidas pelo jovem artista.
Seu talento o levou a ter aulas com renomados mestres. Dentre eles estava Eugène Boudin, um mestre que o encorajou a pintar e o levou a longos e decisivos passeios ao ar livre, digo decisivos pois foi nessa hora que o jovem artista conheceu de fato a pintura e começou a considerar a cor como seu elemento principal. Nessas excursões, segundo o próprio Monet, ele compreendeu realmente a natureza e aprendeu a amá-la.
Moinho em Amsterdã - 1874 |
Em 1859 Monet volta a Paris para tentar a sorte como pintor. A capital francesa atraia muitos artistas nessa época, pois era lá que ocorria a famosa exposição promovida anualmente pelo governo: O Salão
Nessa mesma época o artista foi aconselhado por um de seus amigos, o pintor Troyon, a estudar a figura humana. Com isso, Claude ingressou na Académie Suisse, onde conheceu um jovem pintor, Camille Pissarro. Mesmo assim Monet acreditava que a Academia não era tão importante e ele preferia estudar por conta própria ou "enriquecer seu patrimônio cultural" com as longas conversas que ouvia de pintores e escritores que iam ao Brasserie des Martyrs tomar cerveja. Por falta de progresso o pai cortou a mesada que o sustentava.
A família estava descontente com a falta de seriedade com que Claude levava a vida e no outono de 1860 deu-lhe um ultimato: Ou seguiria firme seus estudos de acordo com a Escola de Belas Artes ou prestaria serviço militar. Monet escolhe se alistar e vai servir na Argélia, porém dois anos depois ele volta para França doente e anêmico. Visto o estado de seu filho, o pai de Monet decide pagar a taxa necessária para livra-lo do serviço militar e Monet, meio a contragosto, passa a frequentar o estúdio de Charles-Gabriel Gleyre, local onde conhece os pintores Bazille, Renoir e Sisley.
Certa vez Claude Monet convidou seus amigos pintores a uma viagem a Chailly para que pudessem pintar a floresta Fontainebleau e as paisagens que a cercam. Lá eles tiveram grandes desafios, pois mesmo que já tivessem pintado ao ar livre antes, nunca haviam pintado horizontes tão fechados quanto os de uma floresta.
O Barco-Estúdio em Argentuil - 1874. Nesse quadro Claude Monet retrata o barco que usava para percorrer o rio Sena e buscar temas para as próximas pinturas. |
A natureza impaciente de Monet e sua busca incessante por temas paisagísticos não o permitiam que ficasse muito tempo no mesmo lugar, tanto é que morou em diversas partes da França, sempre dando preferência aos que possuíam lindas paisagens, que por sinal, eram seus temas favoritos para pinturas.
Como exemplo, posso citar a vez em que o artista morou em Chailly, uma pequena aldeia no meio da floresta Fontainebleau, ou a vez em que morou nas redondezas de Honfleur (lugar onde foi após pintar tudo o que queria em Chailly). De sua estadia em Honfleur nasceram várias pinturas conhecidas, incluindo A Praia de Honfleur - 1864 e A Entrada do Porto de Honfleur - 1867.
A Entrada do Porto de Honfleur - 1867 |
No ano de 1865 Monet é finalmente aceito no Salão. Ele expôs os quadros Estuário do Sena e Ponte sobre Hève na Vazante e ambos fizeram muito sucesso. Enquanto críticos elogiavam suas obras, os mais desavisados o confundiam com outro pintor famoso da época, Manet, que por sua vez não gostou muito de receber elogios por obras que não eram suas.
Após a exposição, Monet, entusiasmado pelas críticas positivas, volta ao estúdio e começa a pintar sua própria versão de Almoço na Relva, de Manet, mas é O Vestido Verde e A Floresta de Fontainebleau que ele escolhe expor no próximo Salão. Assim como na exposição anterior, os dois quadros recebem muitas críticas positivas e fazem um enorme sucesso, em especial O Vestido Verde, que retratava sua amante e futura esposa Camille Doncieux. Os principais e mais entusiásticos elogios partiram de Émile Zola e, surpreendentemente, de Manet.
Almoço na Relva (Manet) - 1863 |
Almoço na Relva (Monet) - 1865 |
O Vestido Verde (ou Camille) - 1866 |
O sucesso deixou o pintor animado e ele decide fazer algo inusitado: um quadro enorme feito inteiramente ao ar livre, nasce então Mulheres no Jardim. Apesar do quadro ter sido feito em sua maior parte ao ar livre, como havia pensado, é bem provável que Claude Monet tenha dado os retoques finais em estúdio. Uma curiosidade sobre o quadro Mulheres no Jardim é que o pintor precisou escavar uma vala em seu jardim para sustentá-lo, por ser uma tela muito grande, e para pintar as partes mais altas, ele precisou afundar ainda mais o quadro na vala. Outro fato um tanto curioso sobre Mulheres no Jardim é que Camille Doncieux, a então amante do pintor e sua futura esposa, serviu de modelo para as quatro mulheres representadas na obra. Apesar de tudo, o júri do Salão de 1867 recusou o quadro.
Essa foi uma época muito conturbada para Monet, o sucesso proveniente dos Salões de 1865 e 1866 parecia já ter passado, sua família não aprovava o relacionamento que ele mantinha com Camille e por isso perdeu um importante apoio financeiro. Sem a ajuda da família, as dificuldades financeiras se agravaram muito e Monet foi obrigado a se mudar para a Normandia e se afastar de Camille, pois já não conseguia se manter em Paris.
Após um tempo, em oito de agosto de 1867, nasce o primeiro filho do pintor, Jean. Ao saber disso, Monet volta rapidamente a Paris para assim ficar com o filho recém-nascido e com Camille, que havia ficado na capital francesa. Três anos depois, no dia 28 de junho de 1870, o pintor decide finalmente casar-se com Camille Doncieux
O nascimento de Jean deixou Monet eufórico e ao mesmo tempo preocupado, pois a miséria em sua casa era grande. Tão complicada era a situação que em 1868 o pintor tentou, sem sucesso, o suicídio.
Os amigos de Monet foram de grande ajuda nesse período, pois deram apoio moral e financeiro ao pintor. Um exemplo disso foi Bazille ter comprado o quadro Mulheres no Jardim por 2.500 francos.
Mulheres no Jardim (detalhe) - 1866/67 |
Jean Monet em seu Berço (O Berço) - 1867 |
Em 1868 Monet consegue voltar a expor no Salão. O quadro exposto é Navio Deixando Cais de Le Havre que foi criado durante uma viagem a Saint-Adresse. Mesmo assim, a alegria de expor novamente nessa exposição tão importante durou pouco: a pintura recebeu críticas desmoralizantes. Por outro lado o quadro Barcos de Pesca recebeu medalha de prata na Exposição Marítima Internacional de Le Havre, graças à sua "incontestável sinceridade de execução".
Devido à Guerra Franco-Prussiana Claude Monet e sua família são obrigados a buscar refúgio em Londres. Felizmente, o isolamento e a miséria não foram o suficiente para impedir o pintor de criar ( suas pinturas tinham agora temas londrinos, como pontes sobre o rio Tâmisa e catedrais góticas.) Além disso Monet também visitava museus na companhia de Pissarro, outro artista refugiado. No ano seguinte o pintor faz uma viagem para a Holanda, onde ele aprende diversas técnicas e traz o colorido campestre às suas telas.
Rio Tâmisa em Westminter - 1971 |
Campos de Tulipa com o Moinho de Vento Rijnsburg (Tulip Fields with the Rijnsburg windmill) - 1886 |
Tempos depois o pintor, já com seus 30 e poucos anos de idade, se muda para Argenteuil, França, onde o rio Sena o atraía, com árvores refletindo na água e campos floridos. Nesta condição de fascínio pela paisagem, Monet pintou muitos quadros atualmente famosos, como por exemplo: Regata em Argentruil com Bom Tempo, A Ponte Ferroviária em Argenteuil, Camille Monet na Janela, A Família no Jardim em Argenteuil, A Ponte de Argenteuil e o Barco-Estúdio de Argenteuil.
Se na primeira viagem à Holanda Monet trouxe novos estudos e técnicas, nessa nova viagem que fez, o pintor reinventou sua paleta de cores "que assumiu nova escala cromática, como uma harpa com acordes de luz. As telas mostravam agora uma luminosidade diferente, que lhes dava ainda mais vida. Experimentou a divisão de tons, usando pequenos toques de cor pura justapostos, para assim representar a luz de modo mais vibrante do que com a mera mistura das tintas na paleta."*
*(Trecho retirado do livro Claude Oscar Monet, da editora Globo, Tradução e Edição Aldo Pereira)
Com essa nova técnica Monet criou sua obra mais icônica: Impressão: Sol Nascente, cuja tela representa com pinceladas rápidas uma marinha em Le Havre. Na exposição coletiva em que o quadro veio a público (15/04/1874) um crítico, em uma tentativa de desmoralização, apelidou os revolucionários artistas participantes de "impressionistas", referindo-se à pintura de Monet. O nome "pegou" e a vanguarda que lá surgia recebeu este nome, Impressionismo.
Impressão: Sol Nascente - 1874 |
Regata em Argenteuil com Bom Tempo - 1874 |
A Família no Jardim em Argenteuil - 1875 |
Graças às dívidas que só cresciam e o nascimento do segundo filho Michel (em 17/03/1878), Monet foi forçado a se mudar de Argenteuil e ir morar novamente em Paris. Mas mesmo com os contratempos este fantástico artista conseguiu encontrar cores vibrantes na capital cinzenta, como é o caso de A Rua Montorgueil Ornamentada, e continuar a pintar. Um alívio para os problemas financeiros de Monet foi a ajuda do Monsieur Hoschédé, que comprava seus quadros e o tinha como "protegido". Nem mesmo a falência impediu Monsieur de ajudar Monet, visto que ele passou a abrigar o artista e sua família na sua casa em Vétheuil.
O convívio com a mulher de Hoschédé, Alice, fez com que Claude desenvolvesse sentimentos por ela e ao mesmo tempo que os dois se tornavam mais íntimos, Camille adoeceu e morreu no ano de 1878.
A morte da amada esposa trouxe muita tristeza e remorso.
Primavera - 1881 (datado de 1882.) |
A tristeza e o luto foram minimizados quando em junho de 1880 a revista La Vie Moderne promoveu uma exposição para Monet, algo que trouxe resultados financeiros animadores. Passados dois anos, o pintor se mudou novamente, desta vez para uma casa em Giverny, uma pequena aldeia perto do rio Sena. Lá ele acreditava que pintaria obras-primas, e estava certo.
Como já havia sido citado, Monet não conseguia permanecer em um mesmo lugar por muito tempo e viajava constantemente em busca de novos temas. Ele foi para Étretat, perto do Canal da Mancha, Belle-Île, no Atlântico, Bordighera, onde esteve com o pintor e amigo Renoir, e muitos outros lugares. Em Bordighera, Claude se sentia incrivelmente bem devido à beleza inestimável do lugar. Ao mesmo tempo em que estava fascinado, o pintor sentia-se também imensamente frustado por não acreditar ser capaz de capturar tal luz magnífica. Em uma das cartas que trocara com Alice, Monet dizia: "Às vezes sinto descontrolado receio de usar os tons de que preciso... a luz é terrível!"
Mar Agitado em Étretat - 1883 |
Vista de Bordighera - 1884 |
Após suas viagens, Monet volta finalmente à casa em Giverny, que até então era alugada e só seria realmente comprada no ano de 1890. Essa época foi marcada por diversas angústias que fizeram com que ele chegasse a perder por um tempo o interesse pela pintura. Esse período mais, digamos, "sombrio" só veio a terminar em seu casamento com Alice.
Apesar de conturbado, esse foi um momento produtivo para o já não tão jovem pintor (Monet vivia sua 5ª década nesse período). Ele criou diversas séries de quadros, com destaque para a Catedral de Rouen em diferentes períodos do dia, feita entre os anos de 1892 e 94. Para o pintor a criação das séries era como um método de trabalho.
O Portal da Catedral de Rouen (Harmonia em Azul e Dourado) - 1894 |
Dessa mesma época também saíram quadros da provavelmente mais conhecida série feita pelo pintor; As Nenúfares. A lagoa de sua casa em Giverny, a famosa ponte em estilo japonês, e as cativantes plantas aquáticas foram de enorme inspiração para o pintor, além de terem protagonizado 49 quadros da série. Nenúfares fez um enorme sucesso quando foi exposto na galeria Durand-Ruel, Monet era agora um pintor famoso, respeitado e conhecido pelos críticos.
Infelizmente o pintor começou a desenvolver sérios problemas de visão e sofria a ameaça de cegueira. Como se não bastasse Monet sofria também com a morte de Alice e uma de suas filhas, que morreu prematuramente. Novamente a tristeza dominou o pintor e, se foi o casamento com Alice que conseguiu o salvar da depressão em meados de 1880, a viagem à Noruega e a Veneza em 1908 somadas ao sucesso da exposição da Galleria Bernheim (Veneza - 1912), animaram Monet. Não poderia deixar de citar que a amizade do influente político Georges Clémenceau também contribuiu para que nosso querido pintor voltasse a apreciar a vida, visto que o político lhe confortava e dizia que logo poderia operar os olhos e voltar a enxergar. Clémenceau também sugeriu que Claude deveria retomar o projeto abandonado de decorar todo o Salão com o tema de Nenúfares, criando uma ilusão de continuidade infinita.
Nenúfares - 1904 |
Monet terminou os painéis de Nenúfares e o governo comprou por um bom dinheiro o, anteriormente recusado pelo Salão, Mulheres no Jardim. Essa época foi o ponto máximo de sua vida, foi sua realização como homem e pintor. Ele pintou com entusiasmo e serenidade, fazendo apenas uma pausa em 1923, quando estava quase cego. Mas a quase cegueira o abandonou em 1925 quando o pintor fez a bem-sucedida operação no olho direito. Claude-Oscar Monet ainda pintava regularmente quando veio a falecer no dia 6 de Dezembro do mesmo ano (1925).
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